A Fazenda Acauã, em Aparecida (PB), é uma das mais antigas do Nordeste. A autorização para a sua exploração foi dada pela corte portuguesa à Casa da Torre em 1757 (Foto: Internet)
A Fazenda Acauã, a 4 Km
da da sede do Município, no sertão paraibano, é considerada uma das mais
antigas do Nordeste brasileiro. A autorização para a sua exploração foi dada
pela corte portuguesa à Casa da Torre, em 1757. O conjunto formado pela
Capela da Imaculada Conceição, construída em estilo Barroco, sobrado,
casa-grande e casarios é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (Iphan) .
Trata-se de um monumento de grande
valor histórico, representativo do apogeu econômico e cultural do sertão no
Século XVIII. Está ligada à história da Paraíba e do Nordeste, com destaque em
diversos momentos da vida brasileira, como a Confederação do Equador,
pois o proprietário, Padre Luiz Correia de Sá, era um dos líderes na região
sertaneja e a fazenda, ponto de encontro dos confederados.
Mais adiante, já no século seguinte e
mais precisamente na década de 30, Acauã foi propriedade do então presidente da
província da Paraíba, João Suassuna, pai do escritor Ariano
Suassuna, que por ali viveu um pouco da sua infância, registrada em suas
obras como parte das memórias da fazenda que ele considerava a “sua terra no
sertão”.
Parte da
história da Paraíba, a Fazenda Acauã abrigou a infância do escritor Ariano
Suassuna e tem servido como cenário para diversas produções cinematográficas.
FOTO: Maristela Crispim
Nas décadas de 30 a 50, a Fazenda
pertenceu ao Engenheiro José Rodrigues Ferreira, nascido nos Estados Unidos e
naturalizado brasileiro, implantou uma série de inovações. Graças ao
desenvolvimento econômico e político, Acauã foi cortada pela linha férrea no
sentido oste/leste interligada com a Rede Ferroviária do Ceará.
Em novembro de 1995, a parte da
fazenda onde fica o patrimônio foi desapropriada pelo governo da Paraíba para
fins de restauração e implantação de um complexo cultural.
O local tem servido de cenário para
filmes, séries e documentários, como o “O País de São Saruê”, de
Vladimir de Carvalho (1971); “Memória Bendita”, de Laercio Filho (2005); “O
Apóstolo do Sertão” de Laercio Filho (2008); “O Sonho de Inacim” de Eliezer
Filho (2009); e “Antoninha” de Laercio Filho (2011).
A ocupação das terras da Fazenda
Acauã, em dezembro de 1995, pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), representou o início das ocupações de latifúndios improdutivos
no Alto Sertão da Paraíba. Essa luta foi muito significativa para a
constituição dos assentamentos de reforma agrária na região, pois impulsionou a
luta e encorajou milhares de famílias a ocupar, resistir e conquistar a terra.
O processo foi de muita resistência,
seis despejos e sete prisões. Dentre os presos estavam duas alemães que
visitavam a área e cinco agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
A estratégia do proprietário era mandar prender toda a equipe da CPT para
acabar com o conflito. Contudo, apesar de toda a repressão, as famílias
conseguiram a desapropriação do imóvel.
Hoje coordenadora da Associação
dos Agricultores do Assentamento Acauã (AAAA), Maria do Socorro Gouveia,
56, participou de todo o processo e conta que, a partir dos anos 80, a CPT do
Sertão mediava os conflitos das ocupações às margens dos açudes públicos.
“Foram mobilizadas 200 famílias, mas, inicialmente, só 25 ocuparam. Depois
chegaram mais 100, de nove municípios onde a CPT atuava. No fim do processo,
ficaram 114”, relata.

Socorro conta que cada família ficou
com 15 a 16 hectares de terra de sequeiro (cultivo que depende da chuva), numa
área um pouco distante da Agrovila. Em terras coletivas de 3,5 hectares são
criados os animais. Em 1997 começaram a ser construídas as primeiras casas, a escola,
a igreja, a praça. Quando tudo parecia bem, veio uma seca, entre 1998 e 1999, e
foi necessária outra mobilização, para garantir acesso à água, por meio
do Canal da Redenção.
Maria do
Socorro Gouveia participou de todo o processo de conquistas. FOTO: Maristela
Crispim
O apoio do Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)foi decisivo para o
desenvolvimento socioeconômico dos assentados. Hoje a produção é bastante
diversificada, como apicultura, caprinocultura, bovinocultura, suinocultura,
agricultura de sequeiro, pomar de frutíferas, hortas. A primeira mandala do
País foi implantada no Assentamento. Esta experiência não foi adiante. Mas, aos
poucos, o cultivo agroecológico vai ganhando força, contando também a feira
agroecológica e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) para
o escoamento dos produtos.
Filho de assentado, Cícero Fábio de
Sousa Alvarenga, 37, é graduado em Agroecologia, mestre em Agronomia, técnico
da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater-PB),
vereador e responsável por diversas conquistas, em termos de infraestrutura,
para o Assentamento, como calçamento, posto de saúde, quadra de vôlei de praia
e suporte esportivo a crianças e adolescentes.
* A jornalista Maristela Crispim* viajou à Paraíba a
convite da Inter Press Service – News Agency (IPS)
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Por: Maristela Crispim*/Fonte: Agencia Eco Nordeste